O “regresso” dos Orelha Negra

Strobe

O concerto está marcado. Agora, cabe aos Orelha Negra fazerem o que sabem fazer tão bem.

Os Orelha Negra são um supergrupo que pretende ser apenas mais um grupo, ainda que não um grupo qualquer. Esta semana, após prolongado teasing, deram um sólido passo na consolidação dessa afirmação, avançando os números 16.1.16 como uma data mágica. É, portanto, para 16 de janeiro do próximo ano que está marcado o “regresso” da banda, com um concerto especial no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Note-se que não é o concerto que faz dos Orelha Negra um grupo como qualquer outro, mas sim o “regresso”. Que não é regresso nenhum — e daí as aspas.

Nem sequer preciso de recuar muito no tempo para contar a história desde o início. Corria o ano da graça de 2009 quando, disfarçados sob capas de vinis e pseudónimos criativos, Fred, Sam the Kid, João Gomes, Francisco Rebelo e Cruzfader decidiram juntar os trapinhos musicais num projeto com nome e identidade própria. Em singelos quatro anos, esta Orelha Negra deu ao mundo outros tantos discos e foi sucessivamente aclamada a cada edição. (Com toda a justiça, devo dizer.)

Orelha Negra - A Cura > youtu.be/S8id5ZuolFE

Depois dos samples de Jackson 5 de “Blessed”, o primeiro álbum de originais chegou-nos em 2010. Sem título, homónimo, à escolha do freguês. No ano seguinte, uma espécie de mixtape — de seu nome Mixtape, precisamente — apresentou remisturas e muitos convidados a dar voz aos instrumentais de Orelha Negra. Novo ano volvido, novo álbum de originais, novo Orelha Negra para nos escangalhar a biblioteca do iTunes a todos. E, claro, a respectiva Mixtape II, outro ano mais tarde.

Pelo meio, apostaram em força na vertente vídeo (incluindo a sempre infalível parceria com Vhils), deram vários concertos memoráveis e ainda agradeceram aos fãs do Alive, em 2011, com um outro disco, disponibilizado para download gratuito durante um curto período de tempo e apropriadamente — pelo menos, se não formos picuinhas com geografia municipal — intitulado Thk U Lisboa.

Orelha Negra - Throwback (Antena3) > youtu.be/bwkEIzgeNao

Talvez esta abundância editorial dos primeiros tempos tenha ajudado à perceção de que os Orelha Negra, juntamente com a sua aura de empreendimento megalómano e potencialmente efémero, haviam desaparecido entretanto. Na verdade, passaram apenas dois anos desde o mítico concerto com orquestra no Sudoeste, enquanto há por aí muito boas bandas — cujos elementos não se espraiam por cerca de 176.492 projetos musicais paralelos — a fazer intervalos bem maiores entre lançamentos sem levantar suspeitas.

(A propósito, Puto Samuel, esse Beats Vol. 2 sai ou não sai?)

Quatro anos depois, o quinteto-maravilha do mais espetacular acidente em cadeia envolvendo o hip hop, a eletrónica e tudo o que abalroaram entre ambos vai então voltar a apresentar um álbum de originais no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Falta saber se esse álbum será mais um Orelha Negra para a coleção e falta também saber quando é que ele nos chegará efetivamente às mãos. Uma coisa está prometida por parte deste que é um grupo como qualquer outro, que vem enriquecendo a música nacional desde 2009 e que certamente a enriquecerá por muito mais tempo: só nos chegará aos ouvidos a 16 de janeiro de 2016 e só se marcarmos presença na jornada desse dia do ciclo CCBeat, que servirá exclusivamente para o dar a conhecer, na íntegra, ao vivo. Até lá, nem um pio.

Não sei o que aí vem, mas sei que vai ser bom.